Minha Primeira Vez na Sapucaí

Por Edna Rocha

 

Marquês de Sapucaí Foto: Edna Rocha
Marquês de Sapucaí
Foto: Edna Rocha

Eu, jamais poderia imaginar que o destino iria me encaminhar em direção ao Sambódromo. Uma pessoa que nunca pulou carnaval e nem sequer gostava das bagunças que a festa “pagã” proporciona. Estar na Avenida me fez recordar da minha adolescência, quando a gente colocava a TV no quintal e a família se juntava para assistir aos desfiles. Mas eu gostava mesmo era do dia da apuração.

Eu estava na Avenida e os fogos anunciavam o início da “festa”. Havia tons de todas as cores no ar, transformando-se em um lindo espetáculo. Meus olhos não conseguiam conter o sentimento de emoção que circulava por toda a minha corrente sanguínea. Quando o espetáculo no céu acabou, a Avenida foi tomada de cores e brilho, era a Acadêmicos da Rocinha iniciando seu desfile.  Nem nos meus sonhos me imaginei fazendo parte dessa festa e principalmente de uma cobertura jornalística. Foi quando percebi que deveria analisar todas as apresentações e compartilhar a sensação com meus amigos e leitores.

Havia muitos fotógrafos, participantes das escolas, os desfilantes, o público, e eu, que observava e registrava tudo com minha câmera e na memória. Era um corre-corre, uma espécie de teatro misturado com danças. Um oásis de famosos que exibiam seus corpos esculturais no palco que se estendia pela Avenida inteira.

As escolas iniciavam as apresentações com o batuque da bateria. A Comissão de Frente abria a exibição, e ia levando seus integrantes num passeio pela Passarela. O trabalho dos participantes era manter a agremiação em harmonia para que nada saísse errado e a produção fosse perfeita. Eu me lembro das quatro noites de carnaval. Meus colegas de profissão se esbarravam uns nos outros para obterem a melhor imagem.

A música era muito alta, eu corria o tempo todo, o pé encheu de bolhas, devido a uma escolha errada de sapato e do esforço, mas eu me diverti. Resolvi rodar por fora da Avenida. Avistei foliões alegres carregando suas fantasias, uma multidão reunida com um só objetivo. Circulando pelos camarotes percebi que muitos famosos não se contentam somente em desfilar, se enlaçam de uma forma glamourosa, e são alvos de “flashes” dos paparazzi.  Nesses camarotes o então “homem comum” se mistura com os prestigiosos da mídia.

Eu não estava satisfeita em olhar somente a Avenida e por fora dela. Na verdade, eu precisava ver mais. Fui à Avenida Presidente Vargas onde as escolas se preparam antes de iniciar o desfile na Sapucaí. Deparei-me com a Imperatriz Leopoldinense, escola de Ramos, ajustando-se. As musas da escola Verde e Branco estavam sendo preparadas para subir nos carros. Mulheres com corpos brilhantes e à mostra. Fiquei observando a conversa dessas “musas”, acompanhadas de seguranças, muitas delas se preparam o ano todo para brilhar uma noite somente, e se der, voltam para o desfile das seis mais bem colocadas.  Presenciei os componentes da escola vestindo suas fantasias, as alas eram alinhadas, recebendo os últimos retoques, e tudo isso antes de soar o sinal para que o espetáculo iniciasse e a Avenida fosse tomada. Todos muito felizes e ansiosos. Na verdade, eu tinha um motivo para estar ali e registrar todo aquele momento. A escola de Ramos homenageou Zezé di Camargo e Luciano, e foi por eles que me vi fazendo parte da “festa da carne”.

Na concentração, as rezas em prol da escola são feitas de várias formas e cada um apela para o “santo” que tem mais intimidade. As escolas se aquecem junto à comunidade antes de encarar a Avenida. Uma experiência que somente um torcedor desse show consegue constatar.

No dia 08 de fevereiro, no desfile da Imperatriz, fui ver o espetáculo da bateria e toda a interpretação de Mestre Marquinho Art’Samba. Uma vibração que nunca mais esquecerei. A sanfoneira Lucy Alves dava os primeiros acordes na companhia de Zezé di Camargo e Luciano. A dupla cantou o refrão da música É O Amor. Foi lindo! Quando o Mestre Marquinho puxou o samba, foi uma emoção incrível ouvir toda a escola cantando junto. Mas essa emoção não foi maior que aquela que senti no dia anterior.

Beija-Flor Foto: Edna Rocha
Beija-Flor
Foto: Edna Rocha

A Beija-Flor de Nilópolis desfilou no dia 07 de fevereiro, escola que aprendi a torcer desde a adolescência. Quando a Azul e Branco despontou na Sapucaí, meu coração acelerou. Todas as minhas lembranças do passado, que já estavam esquecidas, apareceram como um filme passando na minha mente. Meus olhos nem piscavam por presenciar tamanha beleza. Naquele momento pude recordar a televisão no quintal, eu sentada numa cadeira de vime ao lado de meus irmãos, minha mãe, minha avó e meu tio. Na verdade, foi meu pai quem me ensinou a torcer pela escola de Nilópolis, mas nem sempre assistimos aos desfiles juntos. E essa foi uma das minhas recordações com ele, pois no Carnaval de 1998 assistimos o desfile da Beija-Flor junto, mas ele nos deixou naquele mesmo ano. 

Quando me dei conta que o desfile da Azul e Branco já estava terminando, corri para a “dispersão” e pude presenciar a emoção do diretor Laíla, que acreditava no bicampeonato. Mas no dia da apuração todas as esperanças dos carnavalescos das outras agremiações foram sepultadas e a Mangueira foi a grande campeã.

No dia do desfile das campeãs eu refleti e entendi que não posso me deixar seduzir por este mundo. Mas nesses cinco dias que frequentei o Sambódromo eu senti que desde então minha forma de olhar para os desfiles das escolas de samba mudou. A madrugada do dia 14, já era certa. No camarote É o Amor Pink Elephant os amigos bebiam e eu me despedia, entre abraços e beijos, já sonhando com o carnaval de 2017.

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