Poesia de Maria Clara Parente vai além das regras de métrica e rima
As jovens poetisas têm se multiplicado com uma escrita que busca na poesia uma razão de ver o mundo com possibilidades novas e transformadoras. Maria Clara Parente – artista, jornalista, escritora – mostra em nas frestas das fendas (Editora 7 Letras) que há outras formas de poesia, além das tradicionais com regras de métrica e rima: a autora está produzindo vídeo poesias a partir dos poemas do livro, alguns também compartilhados em sua conta do instagram @mclaraparente.
Os paradoxos insolúveis do amor, o tempo e espaço, o que se encontra no fim do terremoto, o que parece e o que é de fato: aquilo que andava oculto nas frestas das fendas é levantado pela jovem poeta. Em sua estreia, Maria Clara Parente mistura verso e prosa, sonho e memória, cotidiano e filosofia, com a naturalidade de quem quer desbravar o mundo.
“A vontade de trazer para a superfície sentimentos que muitas vezes estão guardados é o que move a publicação dos escritos”, diz Maria Clara, para quem a poesia é também o refúgio mais efetivo das mensagens objetivas. E foi uma situação bastante real, com o isolamento provocado pela pandemia e a impossibilidade de levar adiante outros projetos, que aguçou o processo criativo da escritora, que começou este livro há pouco menos de três anos.
Segundo Jorge Viveiro de Castro, editor da 7 Letras, a autora de nas frestas das fendas leva os leitores por caminhos inesperados. “São partidas que nunca partem, numa esquina de Lisboa, em Hanói ou Berlim, ou procurar um grão de areia no Alasca, seguir pelas ruelas de Cartagena ou por uma Copacabana presa na memória, afinal o futuro é agora. E esse futuro fica presente quando vira texto, verso e palavra”, define ele.
Entre suas inspirações estão Ana Cristina César, vinculada à chamada poesia marginal dos anos 1970, e Audre Lorde, americana de descendência caribenha, feminista lésbica e ativista na luta pelos direitos humanos. “A oficina de poesias que faço com o poeta Carlito Azevedo também é uma enorme referência para a colisão de partículas poéticas”, complementa.
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todos querem ser autores na rússia
ter uma casa própria
ou desfazer o nó da rachaduras
você já foi a muito mais lugares do que se lembra
e a sua boca ainda está suja das coisas que ficaram por dizer
eu poderia detalhar mil motivos em pequenos gestos
mas no fim do dia é sempre tanta tela no fundo do olho
que é melhor ficar para depois
eu tinha tanta coisa para fazer e tô aqui
sua máscara esconde tudo o que você não queria ver
e alguma coisa em mim ainda vive naquele verão
balaústres em júpiter
abóbadas brilhantes
foguetes no aquário do quarto andar
e carros com tetos solares amazônicos que quase não te dizem nada
tudo é desconhecido
nas minhas encruzilhadas reluzentes
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Páginas: 92
Formato: 14×21 cm
Valor: R$ 38,00
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A poesia de Maria Clara Parente é uma das formas que ela tem de habitar o mundo. Pesquisadora de mudanças sistêmicas, a jornalista, atriz, apresentadora e documentarista, é mestranda em Literatura, Cultura e Contemporaneidade na PUC-Rio. Estudou Comunicação para Transição na Schumacher College, na Inglaterra, e é cofundadora do projeto de pesquisa audiovisual This is not the Truth, que questiona percepções antropocêntricas de mundo, pelo qual dirigiu a série ‘O que está emergindo’, que ganhou o prêmio de melhor roteiro no Rio Web Fest 2019 e melhor série no festival Fica.Vc, além de ser exibida em festival na Espanha, Ucrânia e Alemanha.
Em parceria com o canal Hysteria, da Conspiração filmes, roteirizou e apresentou o vídeo “Isso não é um manifesto”, em 2019. Entre 2016 e 2018, apresentou e dirigiu web séries sobre economia colaborativa e sobre comida sustentável, no canal do Projeto Colabora. É colaboradora da revista digital alemã Emerge. Atualmente, está dirigindo o projeto documental Regenerar em parceria com a Spanda Produtora.